Quando li pela primeira vez o trecho acima de Kevin Kelly, fiquei maravilhado. Nós precisamos das Inteligências Artificiais para dizerem o que nos torna, de fato, singulares.

E, a verdade, é que hoje não sabemos.

O que não nos torna singulares?

Com medo de perder o emprego para IAs, tornou-se frequente mostrar os eventuais erros que elas cometiam na produção de conteúdo.

Algumas pessoas disseram que a inteligência não poderia escrever com a exatidão que eu escrevo. Mas, na verdade, nossos textos atuais são um bando de estudos sem profundidade e exatidão. Vários poréns podem ser ditos a cada texto humano escrito pela maior parte dos jornalistas atuais.

Outras, diziam que a inteligência não poderia escrever com a alma como eu. De novo, a prática do mercado é não tem alma. São listas e técnicas sobre como escrever de forma otimizada para SEO.

Um não profissional da área disse:

Ainda existem “blogueiros”? Sinto que hoje todos os blogs são feito por empresas única e exclusivamente visando SEO.

Conteúdos sem alma, sem relevância alguma, quase todo baseado em “listas” “xxx é confiável?” e coisas genéricas.

— João Pedro C. Motta (@OficialJoao) June 15, 2023

A verdade é que as próprias pessoas não sabem o porquê de serem essenciais. Quando a mesma discussão rolou para a área de SEO, ouvi uma pessoa dizer que apenas eles “interligavam várias áreas da empresa”.

O ponto levantado pela pessoa é verdade. Profissionais de SEO trafegam por várias áreas importantes da empresa. Mas quando a utilidade for essa, serão substituídos no dia seguinte. Ninguém é pago para apenas interligar conhecimento.

O que quero dizer com isso é que toda forma pode ser imitada. Desde a escolha das palavras até o sentimento que é empregado em tudo isso.

Sim. IAs podem ser emocionais. Podem levar alguém ao choro, riso ou alegria. E, provavelmente, com maior maestria que a maior parte das pessoas que você conhece.

Por mais que isso possa ser assustador, há coisas que só você pode fazer.

O que torna você singular?

Esse conteúdo não pode ser criado com alguma IA. Sabe o motivo? Ele é completamente subjetivo. Ele é a mistura de coisas que existem com coisas inexistentes. Apenas opiniões.

E quanto nos falta isso hoje!

Nos tornamos mestres em repetir as mesmas histórias e contar os mesmos argumentos. Não conseguimos mais pensar com maestria.

Por isso, quando uma inteligência tenta automatizar esse processo, nos sentimos deslocados.

Precisamos entender, interagir, pensar nas hipóteses e testar. Queremos contato e a possibilidade alta do erro.

Precisamos dizer algo e voltar atrás na próxima semana. Queremos dizer e nos contradizer depois.

O único conteúdo que não pode ser escrito por uma IA e o seu. É quando você se dispõe a escrever as coisas em que realmente acredita.

O que acontecerá quando as pessoas não precisarem mais de listas?

Analisando a forma com que o Supermercado Supernosso criou conteúdo para proporcionar uma experiência interessante aos seus clientes e melhorar nos mecanismos de busca, diferenciei pontos relevantes. Primeiro, usamos tecnologia para resolver problemas atuais. Depois, usamos a mesma tecnologia para fazer algo que jamais foi pensado antes.

Hoje, boa parte do nosso conteúdo digital permeia na hipótese de que as pessoas continuarão procurando listas de conteúdos no Google ou no Bing.

Mas, em algum momento, não precisaremos mais.

As IAs têm demonstrado que podem criar conteúdos para responder diretamente às necessidades das pessoas. Elas não precisam listar conteúdos de terceiros.

Nesse sentido, parece-me plausível que, no futuro, talvez sejamos mais treinadores de IAs que criadores de conteúdo para SEO (isso existe?).

Mesmo quando as pessoas não precisarem de listas, elas precisarão de conteúdos autênticos. Elas precisarão de dicas, pontos de vistas e simples opiniões.

Uma singularidade busca incansavelmente encontrar outra singularidade. Alguém com fome de opiniões sempre encontrará alguém com fome de proferi-las.

A notícia é sempre quente

Por que usamos o Twitter? Eu não quero nem vou perguntar (a não ser por mero hobbie) a uma Inteligência Artificial o que ela pensa sobre determinada notícia que acabou de ser publicada.

Quero entender o que os singulares têm a dizer.

Os jornais também sobrevivem do singular. Contratam jornalistas investigativos para procurarem pistas, conversar com pessoas e encontrar furos.

Por mais que no futuro, parte desse processo também possa ser feito por IAs, são eles que vão nos locais que precisam ir para encontrarem o que desejam.

E é aqui que precisamos aprender. Precisamos ter um conteúdo mais quente, envolvente e com momentum. Precisamos liderar opiniões.

Precisamos fazer com que as pessoas busquem por nós por desejarem nossas visões de mundo.

Precisamos perder o medo de errar. O medo de falar alguma besteira.

Caso contrário, falaremos o que todos falam. E, dessa forma, nosso caminho é treinar IA.

Vá em frente

Se você não quer treinar IA, poderá focar em fazer com que as pessoas queiram buscar por você. Não por um tópico, mas por você.

Isso é difícil. Elas têm que descobrir você. Elas tem que confiar em você. Mas fazem isso não por terem encontrado no Google, mas por dizer a verdade. Por fazer a verdade.

Isso, talvez, signifique que sua equipe de redatores precisa deixar de lado o Google para se focar nos clientes e no negócio. Aprender com especialistas e entender o que mais anseia as pessoas (que, muitas vezes, não pesquisa por isso).

Ser bom ou parecer bom?

Este artigo maravilhoso discute o ser ou parecer no Marketing:

Singularize-se

Todos os pontos só farão sentido quando você deixar de lado a ideia de competir por listas e pensar em competir por atenção.

Por que alguém perderia tempo para ler, ouvir ou ver o que eu faço? Por que eu despertaria tanta atenção?

Será que escrever um compilado de tudo que já existe na Internet é o suficiente? Antes, ainda poderíamos nos ater a métricas de quantidade de leituras que não davam em nada.

Em um futuro próximo, podemos perder até isso. A única coisa que vai restar é você. Sua marca. Se ela tiver algo para contar, será ouvida. Se não tiver, depois de terminar a IA, irá para os anais das marcas esquecidas.

Nós precisamos da IA para entendermos para que servimos. Mas precisamos da IA também para entender o que não é nosso papel. Que tal usar esse momento de inflexão para fazermos o que, de fato, deveríamos fazer desde o início?

<3